Sertão, uma palavra de difícil definição para quem dele não vive o seu viver, não produz a própria materialidade. Mesmo Euclides, Raquel ou Guimarães, com suas maravilhosas elevações por sobre esse cotidiano, não conseguiram deixar, para quem ali vive, a noção da necessidade de mudar o mundo, sem deste retirar o Ser Sertão. O I Encontro Educação, Estética e Sociedade dos Sertões de Crateús, que tem como tema: Trabalho, Formação Humana e Linguagem, juntamente com a II Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, por reunir vivências que buscam uma utilidade revolucionária concentram, como indicou Aristóteles, a procura pelo saber que leva ao conhecimento independente de sua utilidade. Como nesses eventos o que importa é pensar, radicalmente, uma sociedade diferente da que agora assola o mundo, torna-se inevitável a reflexão acerca de alguns dos aspectos da barbárie social contemporânea. O que queremos destacar com isso é que para os interesses de acumulação do lucro, sustentáculo do capitalismo, se identificam: matar à bala, independente de suas finalidades, estudantes quenianos em uma universidade e cartunistas franceses em uma redação de um jornal; e tirar a vida de crianças sertanejas por inanição ou por falta de assistência médica. Os encontros de abril de 2015 na FAEC, feitos de/e por gente que pleiteia um mundo para além do constrangimento da mercadoria, tem relevada importância por planejar entender, profundamente, a realidade que a circunda. Para que se possa nesta intervir, é válido considerar a décima primeira tese sobre Feuerbach, escrita por Marx: "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo". Portanto, com a consciência assentada sobre os próprios pés, como também indicou o filósofo alemão, essa gente não se envergonha de Ser Sertaneja, mas, ao mesmo tempo, não conserva orgulho das desigualdades sofridas pelo retardado capitalismo praticado no Ceará. Por isto, levanta a voz e, por intermédio desses eventos, caminha na direção da transformação radical da sociedade capitalista.
Prof. Dr. Deribaldo Santos - coordenador do Grupo de
Pesquisa Trabalho, Educação, Estética e Sociedade (GPTREES)
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